Breve caracterização do Paleolítico
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- Categoria: Paleolítico
O Paleolítico é o primeiro e o mais vasto período da Pré-História. Neste período assistimos a expansão territorial do homem que, vindo de África, penetra na Europa por diferentes vias. Estes caçadores-recolectores, deslocam-se em pequenos grupos no interior de vastos territórios e fabricam instrumentos de pedra lascada, madeira e osso.
Pensa-se que o homem penetrou na Europa por diversas vias há cerca de 1,5 milhões de anos. Até há cerca de 600 ou 700 mil anos a Europa era um continente “vazio”, apenas ocupado ocasionalmente por pequenos grupos humanos. Estes pequenos grupos de Homo antecessor ou, mais tarde, Homo heidelbergensis / Homo erectus deixaram alguns testemunhos líticos. A esta tipo de fabrico de instrumentos líticos caracterizado por seixos talhados de forma mais ou menos elementar e que surgiu no Paleolítico Inferior Arcaico denomina-se por cultura Pré-achulense.
No Paleolítico Inferior Pleno, a ocupação humana torna-se mais expressiva no Acheulense, materializada no aparecimento dos bifaces (o “faz-tudo” segundo Leite Vasconcelos), dos raspadores, dos machados de mão e dos triedros.
A nível do Acheulense encontram-se alguns vestígios em Portugal, nomeadamente do Abelivense (primeira fase do Acheulense) na zona do Guadiana, do Acheulense Pleno por todo país e do Acheulense Final com os instrumentos micoquenses da região de Alpiarça.
Sobre o Paleolítico Médio existem mais vestígios, nomeadamente locais de habitat ao ar livre, em grutas e em abrigos sob rochas que fornecem associações entre utensilagens de pedra lascada e restos faunísticos dos caçadores Neandertais, de que se conhecem também alguns restos físicos em algumas grutas (Columbeira, no Bombarral; Figueira Brava, em Setúbal; Almonda, em Torres Novas; etc.).
Os conjuntos líticos constituem a chamada cultura Mustierense, onde se destaca a chamada técnica Levallois, um método do talhe da pedra que representam um progresso no fabrico de instrumentos, uma vez que as ferramentas passam a ser pré-concebidas e existe um maior número de gestos técnicos encadeados entre a concepção e concretização do próprio instrumento.
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Paleolítico Superior
Corresponde ao período das manifestações artísticas e culturais que têm lugar no Ocidente Europeu entre 35 mil a. C. e 8 mil anos a. C.. Estas manifestações são atribuídas ao Homo sapiens sapiens. Os instrumentos de pedra lascados, obtidos a partir de lâminas produzidas em série, tendem a ser cada vez mais especializados e de pequenas dimensões dando origem a micrólitos.
Com o Paleolítico Superior são desenvolvidas novas e importantes tecnologias. A nível lítico, a utilização sistemática da lâmina (lasca de forma muito alongada e de bordos sensivelmente paralelos) que permite a obtenção de um variado leque de instrumentos padronizados e especializados, tais como os buris (caracterizados por uma aresta cortante robusta, possivelmente destinada à gravação), as raspadeiras, os furadores e vários tipos de pontas. A nível do trabalho do osso surgem novos instrumentos tais como a zagaia, o arpão e o propulsor, que pode ser considerada como a “primeira máquina” que permite a desmultiplicação da força humana.
Com a expansão territorial do Homo sapiens sapiens assistimos a uma explosão do fenómeno artístico materializada na arte rupestre e na arte móvel.
A arte rupestre consiste essencialmente em pinturas e gravuras efectuadas sobre rocha, em paredes e tectos (arte parietal) de grutas (como e o caso da Gruta do Escoural, em Montemor-o-Novo). Estas manifestações podem ocorrer ao ar livre, como é o caso do maior complexo de arte rupestre paleolítico ao ar livre conhecido até hoje, no vale do Côa. Este conjunto foi identificado em 1994 e é composto milhares de desenhos representando cavalos e bovídeos gravado pelo homem nas rochas xistosas do vale do Côa, data de há 20 000 anos atrás. As manifestações artísticas em cavernas, também designadas por “arte das cavernas”, têm o seu ex-libris nas representações de Altamira, em Espanha, e Lascaux, em França.
Na arte móvel destacam-se as “Vénus”, que são figurações femininas que estão na base de cultos de fecundidade. Na arte móvel devem ainda ser consideradas esculturas de cabeças de animais .
A arte do Paleolítico superior quer seja parietal ou móvel constitui-se com a primeira forma de manifestação artística do Homem.
A Estremadura é a região de Portugal com maior número de sítios do Paleolítico Superior. Estes sítios podem variar desde os grandes acampamentos ao ar livre, passando por locais de curta permanência para caça, recolecção ou até mesmo para fabrico de instrumentos, até à ocupação de grutas e abrigos sobre zona com ocupações temporárias.
O Paleolítico Superior caracteriza-se pela existência de várias culturas. No Paleolítico Superior Inicial, destacam-se os buris arqueados e raspadeiras espessas características do Aurinhacense (38.000-28.000 a. C), assim como as pontas de dorso abatido e buris planos, muito comuns no Gravetense (28.000-20.000 a. C)
O Paleolítico Superior Pleno é preenchido pelo Solutrense (20.000-15.000 a. C), que é a cultura do Paleolítico Superior mais característica da Europa Ocidental. Deste período destacam-se as “folhas de loureiro” e “de salgueiro”, que são pontas de lança em pedra, de forma foliácea. Em território português, o Solutrense apesenta características que cruzam a influência do Solutrense Franco-Cantrábico e do Solutrense Levantino-Mediterrânico.
O Solutrense português é ainda rico a nível das expressões artísticas, tanto a nível das gravuras parietais, como na da Gruta do Escoural, das placas gravadas, como na Gruta do Caldeirão, em Tomar, e dos adornos em osso e pedra.
O Paleolítico Superior Final, caracteriza-se pela cultura Madalenense, que se exprime pelos buris em bico de papagaio, pontas de pedúnculo, lamelas de dorso e pontas microlíticas, que antecipam já uma tendência que se acentua no Mesolítico.