Mesolítico
O que é o Mesolítico?
O Mesolítico (Meso - Meio + lítico- Pedra) foi considerado durante muito tempo como um período de transição e decadência, mas na verdade pode ser considerado como uma verdadeira “idade do ouro” da história humana. Neste período, os caçadores-pescadores-recolectores vão desenvolver uma tecnologia que lhes permite explorar ao máximo os recursos naturais. O arco e flecha torna-se comum e podemos chamar a esta a época das sociedades de arqueiros.
O que acontece no Mesolítico?
Devido à subida do nível do mar, o desenvolvimento das áreas arborizadas e diminuição e em alguns caso extinção de grandes mamíferos (elefante, rinoceronte e urso), estes grupos humanos começaram a explorar ao máximo os recursos do bosque (pequenos mamíferos, aves, frutos), do litoral e nos estuários dos rios, onde se formam grandes concheiros.
O que é um concheiro?
É uma estação (sítio) arqueológica onde existe uma grande acumulação de conchas de moluscos, como a ostra e o berbigão. Eram locais onde as comunidades faziam as diversas actividades diárias e também enterravam os seus mortos.
Em Portugal existem vários concheiros do Mesolítico no estuário do rio Tejo, em Muge (Cabeço da Arruda, Moita do Sebastião, Cabeço da Amoreira…) e no estuário do rio Sado, próximo de Alcácer do Sal (Poças de S. Bento, Cabeço do Pez, Arapouco, Vale de Romeiras, Cabeço das Amoreiras…)
Onde viviam estas comunidades?
No Mesolítico, os homens ainda eram semi-nómadas. Geralmente tinham acampamentos de Verão e acampamentos de Inverno, ao ar livre ou em abrigos sob rocha. Alguns destes acampamentos podiam ser bases residenciais principais, com alimento durante o ano inteiro e onde construíam pequenas estruturas de abrigo. Outros, seriam locais de ocupação temporária para a obtenção alimentos existentes só em certas épocas do ano.
Que actividades existiam no Mesolítico?
Como eram caçadores-pescadores-recolectores dedicavam-se à caça, pesca e recolecção que lhe dava alimento para garantirem a sua sobrevivência. Nesta altura, o homem caçava o veado, o javali , o auroque (boi), o coelho e aves (pato, ganso, rola..). Na recolecção destaca-se a apanha de moluscos nas zonas costeiras e dos estuários dos rios.
Desenvolveram-se outras actividades económicas relacionadas com as primeiras práticas agrícolas e domesticação de animais. Recentemente uma equipa de arqueólogo descobriu um cão sepultado num concheiro do Sado, que pode ser um dos mais antigos casos de domesticação conhecidos em todo o Mundo.
Surgiram novos objectos, frágeis do ponto de visto arqueológico, uma vez que não perduram no tempo, como o pau de cavar relacionado com as primeiras práticas agrícolas; a cestaria, e os objectos relacionados com a pesca como a canoa, a jangada, a rede de pesca e o anzol.
Que instrumentos existiam?
Para além dos instrumentos em madeira e outros materiais orgânicos existiam instrumentos em pedra. Os instrumentos em pedra do Mesolítico podem ser agrupados em 2 grandes “grupos”:
- Os micrólitos, ou seja instrumentos líticos de pequenas ou muito pequenas dimensões, obtidos a partir de lamelas retocadas ou segmentadas (lascas alongadas de pequenas dimensões), através de técnicas apropriadas, dando origem a figuras geométricas (triângulo, rectângulo, crescente).
-Os instrumentos robustos, de base macrolítica, ou seja de grandes dimensões tais como seixos talhados, picos e machados.
O Mesolítico mais antigo ou inicial, também é designado como Epipaleolítico. Nesta fase, os homens utilizavam os tais instrumentos de aspecto primitivo, de dimensões consideráveis. Estes instrumentos eram extremamente funcionais e necessários para a recolha de moluscos nas rochas ou para retirar raízes e tubérculos da terra.
O desenvolvimento e intensificação do tipo de economia de caça e recolecção conduzem, a partir de meados do 6º milénio antes de Cristo, ao aparecimento de concheiros. Este período de tempo correspondente ao Mesolítico Pleno e estende-se em certas regiões até ao 4º milénio a. C., época em que as comunidades de pastores e agricultores do Neolítico já estavam instaladas em Portugal.
Como era a vida num concheiro?
Os concheiros, são sítios arqueológicos muito ricos, onde é possível encontrar restos dos animais (fauna) que os homens comiam, bem com os instrumentos (em osso e pedra) que utilizavam, objectos de adorno, estruturas de habitações e de armazenagem, assim como enterramentos de adultos e crianças.
Os grupos humanos comiam moluscos – e daí a formação dos concheiros - mas também mamíferos, tais como javali, veado, cavalo e auroque. Comiam ainda peixes e aves. Nos concheiros do rio Sado, os grupos humanos eram semi-nómadas, pois foram encontrados vestígios de acampamentos sazonais (Outono/Inverno e Primavera/verão).
Os instrumentos de pedra são de pequenas dimensões (micrólitos) e feitos com recurso a uma técnica de trabalho da pedra especial chamada de “técnica do microburil”. Com este técnica, os homens partiam as pequenas lâminas ou lamelas de pedra por forma a fazerem pequeno micrólitos geométricos.
Os habitantes dos concheiros enterravam os seus mortos. O MNA tem uma das maiores colecções antropológicas (restos humanos) do Mesolítico europeu, que permite concluir que estes homens tinham estatura e aspecto físico semelhantes aos da actual população portuguesa.
Estes homens faziam rituais funerários e polvilhavam os seus mortos com ocre e purificavam-nos pelo fogo, sem os cremarem. Deitavam-nos em seguida na posição fetal, adornando-os com conchas, dentes perfurados e outros objectos, presenteando-os com oferendas rituais, sob a forma de moluscos por abrir